sexta-feira, 26 de abril de 2013

Gonzaguinha e Gonzagão: a difícil relação entre pai e filho


Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, nasce em 22 de setembro de 1945, filho da cantora Odaleia Guedes dos Santos e do sanfoneiro Luiz Gonzaga do Nascimento. Ao menos, é o que diz sua certidão de nascimento. As dúvidas sobre a paternidade de Gonzaguinha o acompanham por toda a vida, pontuando de forma quase sempre negativa o relacionamento com Gonzaga. Boa parte do tempo, a relação dos dois se resume a uma oposição: de um lado, está o pai com a sua severidade e, do outro, o filho e a sua sensibilidade. Isso porque, enquanto a questão aflige Gonzaguinha, Gonzagão se mantém imperturbável. Será apenas em seus últimos anos que o sanfoneiro fará as pazes com o filho.

“Gonzaga é um homem do povo, que vive guiado por um instinto de sobrevivência. Não tem essa de chorar no analista. Gonzaguinha é mais sensível, é um menino urbano”, diz Regina Echeverria, autora do livro Gonzaguinha & Gonzagão (Leya). 

A dúvida é alimentada pelo comportamento de Gonzaga, que deixa o garoto, ainda bebê, sob os cuidados de um casal de amigos, Dina e Henrique Xavier Pinheiro, enquanto viaja o país fazendo shows. A mãe, Gonzaguinha já havia perdido: com tuberculose, Odaleia se afastou para tratamento quando o menino tinha apenas dois meses, e morreu pouco depois, sem voltar a viver com ele. O próprio Gonzaguinha diz ter perdido a mãe aos dois anos, mas, segundo Regina Echeverria, há quem diga que ela faleceu em 1950, quando ele tinha 5.
É, aliás, aos 2 anos que a relação com o pai recebe um golpe duro. Gonzaga se casa com a secretária, a recifense Helena das Neves Cavalcanti, e ela, sem a menor simpatia pelo enteado, se recusa a criá-lo. A passividade do pai faz com que Gonzaguinha cresça dividido entre a casa de Dina e Xavier, no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, e colégios particulares internos. “Ele sofreu muito, se sentia rejeitado”, afirma Regina ao site de VEJA.

O casamento de Gonzagão com Helena também faz crescer a dúvida sobre a paternidade de Gonzaguinha porque o sanfoneiro fracassa na tentativa de engravidar a mulher. Ele tenta por quase quatro anos, sem sucesso. Se Gonzagão era estéril, como se suspeita, ele não poderia ter engravidado Odaleia. A família, no entanto, nunca fez testes de paternidade.

Música – Sem nunca reclamar da madrasta, Gonzaguinha se torna uma criança calada e ressentida e um adolescente difícil, dado à rebeldia. É expulso de alguns internatos e aos catorze anos contrai tuberculose, que o deixa de cama. Curado, decide mudar de vida: aos 16, sai da casa de Dina e enfrenta a madrasta. Consegue se instalar na casa do pai, mas a luta por espaço não é nada tranquila.

Os problemas logo começam a aparecer. O rapaz se tranca em seu quarto, não tem horários para comer, para dormir ou para tocar violão e pouco interage com a família. Durante as brigas e discussões com o pai, não escuta em silêncio: responde a tudo, sem medo. O seu melhor amigo, nessa época, é o violão. Passa horas com ele no colo, compondo músicas que mais tarde farão sucesso em todo o país.

A primeira composição surge, na verdade, antes da mudança para a casa do pai. Em 1959, aos 14, antes de cair doente, Gonzaguinha cria Lembrança de Primavera (“A primavera chegou / Tudo agora é flor / Lembro dos meus verdes tempos / E do meu primeiro amor”), que o pai gravará em 1964. Antes de colocar uma canção do filho em um disco seu, porém, Gonzaga demora a aceitar sua veia musical. Ele não quer que Luizinho, como o chama, deixe de estudar e o obriga a fazer faculdade. Quer ter um filho doutor, com anel do dedo. 

Gonzaguinha ingressa na Faculdade de Ciências Econômicas Cândido Mendes em 1967 e conclui o curso, mas sequer vai buscar o diploma e não quer nem saber de colocar um anel no dedo. Engajado em causas políticas e nos movimentos estudantis contra a ditadura, Gonzaguinha mostra um lado completamente diferente do pai, o que chega a irritá-lo. Não que Gonzagão seja muito politizado: apesar de conservador, ele não se envolve diretamente com política, só se interessa por música. “Quando é convidado a participar de algum comício, ele não quer nem saber para qual partido vai tocar, só chega e faz o show”, diz a biógrafa. 

E será a música o denominador comum entre eles. Caberá a ela dissipar as diferenças entre pai e filho e aproximá-los de modo comovente. Nos últimos anos de vida de Gonzagão, eles estão apaixonados um pelo outro, de acordo com Regina. Gonzaguinha propõe que façam shows juntos e eles rodam o Brasil, reforçando laços que antes pareciam tão frágeis. “No fim da vida, eles estavam bem, haviam superado os problemas. Até o relacionamento entre Gonzaguinha e Helena havia melhorado”, conta Regina. 

Gonzaguinha morre de acidente de carro em janeiro de 1991, aos 45 anos. Apenas um ano e meio após a morte do pai, de uma parada cardiorrespiratória, em agosto de 1989, aos 76.

Fonte: VEJA

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