Biografias e longas com tema musical já se tornaram comuns na carreira do brasileiro Breno Silveira. Há apenas quatro meses, o diretor – que estreou no cinema com 2 Filhos de Francisco, sobre Zezé Di Camargo e Luciano – divulgava o filme À Beira do Caminho, com argumento baseado nas canções de Roberto Carlos. E nesta sexta-feira ele lança Gonzaga – De Pai pra Filho, filme que traça a trajetória do músico da cidade de Exu, interior de Pernambuco, responsável por popularizar o baião nas décadas de 1940 e 50, e sua turbulenta relação com o filho, Gonzaguinha, que também se tornou um músico importante nos anos 1970.
“Eu gosto de histórias familiares. São histórias com as quais as pessoas se identificam”, diz o cineasta, que planeja agora uma biografia de Amyr Klink. O longa, um desdobramento do documentário Mar sem Fim, lançado por Silveira em 2001, também deve abordar a relação do navegador com o pai. Mais uma biografia e mais um drama sobre pais e filhos – como é ainda o caso de À Beira do Caminho. O diretor parece ter bem definido o seu universo temático.
A cinebiografia dos Gonzagas – de cada um e da relação entre os dois – é um projeto que já conta sete anos. Silveira trabalha nele desde que as produtoras Márcia Braga e Eliana Soarez -- que se tornaram produtoras do filme -- o procuraram com fitas que haviam sido entregues a Márcia por Daniel, filho de Gonzaguinha. Nelas, o cantor carioca entrevista o pai, numa tentativa de se aproximar do homem que pouco conheceu durante a vida. A conversa entre os dois virou o fio condutor do longa, que a partir dela recupera a história de Gonzagão desde a sua infância até os anos anteriores à sua morte, ocorrida em 1989.
Relação conflituosa - O longa narra a turbulenta relação entre Gonzagão e o filho cuja paternidade ele assumiu – a primeira mulher do sanfoneiro, Odaléia, já estava grávida quando o conheceu. Gonzaguinha perdeu a mãe aos 2 anos, vítima de tuberculose, e foi criado pelo pai, mas ele nunca foi de fato presente. O menino passou a infância na residência de um casal de amigos de Gonzaga e a adolescência em um colégio interno no Rio de Janeiro – motivos que o fizeram odiar o pai. Os dois só se entenderiam definitivamente em 1980, quando fizeram turnê juntos, nove anos antes da morte de Gonzagão. Gonzaguinha seguiria o pai dois anos mais tarde.
Um dos destaques do filme é o ator gaúcho Julio Andrade, em uma caracterização impressionante de Gonzaguinha. “O Julio apareceu nos testes já vestindo peruca e falando e andando como ele. Até pediu para acender um cigarro. Ele estava tão diferente que nem os amigos o reconheceram”, conta Silveira. O ator diz que sempre quis viver o compositor carioca. “Sou muito fã dele, mas, apesar disso, nunca tinha percebido o quanto éramos parecidos”, diz Andrade, de 31 anos.
Segundo o diretor, ter encontrado o intérprete de Gonzaguinha com tanta facilidade foi um alívio, já que a produção passou mais de um ano atrás do ator ideal para viver Gonzaga. O escolhido, entre mais de 5.000 candidatos, acabou sendo um estreante, o músico Chambinho do Acordeon. Nascido em São Paulo, ele entrou no concurso de seleção quase por brincadeira. “Pensei: ‘Vamos ver no que dá’. Mas não tinha muita esperança”, conta. O resultado não chega a impressionar, mas Chambinho cumpre o seu papel.
Falta de ritmo - É essa também a sensação geral de Gonzaga. Um filme que poderia ser mais do que é, mas que, por escolhas erradas de roteiro e montagem, perde ritmo e um pouco da sua capacidade de contar a história e emocionar.
Não para Silveira, é claro, que ainda pretende voltar ao sertão para um novo projeto. “Sou muito apaixonado por esse país. Adoro essas histórias da nossa terra e são elas que me atraem”, afirma ele, que sonha em fazer um longa sobre a história do cangaceiro Lampião – de quem, não por acaso, Gonzaga era fã.
Fonte: VEJA
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